Num período marcado pela volatilidade dos preços do ouro, pela desvalorização do dólar e por dinâmicas de poder global em transformação, dois ex-executivos da Viland estão iniciando um empreendimento ousado. Alex Gonçalves e Murilo Arruda decidiram fundar a Morada Capital, uma gestora de investimentos brasileira, em um momento em que muitos investidores locais estão se afastando de riscos. Essa decisão reflete uma crença sólida de que, mesmo em tempos incertos, existem oportunidades a serem aproveitadas.
Gonçalves e Arruda enxergam o atual clima de mercado como um cenário ideal para uma estratégia de investimento de longo prazo, capaz de se adaptar a diferentes situações, incluindo a atual, em que um medo governamental predominante está direcionando o interesse para ativos considerados refúgio, como ouro, bitcoin e commodities.
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Construindo a Morada Capital: Fundamentos e Filosofia
Segundo Arruda, a formação da Morada Capital não se baseia no oportunismo, mas em uma visão e princípios compartilhados entre ele e Gonçalves. Ele ressalta que encontrar os parceiros certos muitas vezes se mostra um desafio maior do que escolher o momento ideal para lançar um negócio. A abordagem deles em relação à empresa prioriza a integridade institucional em vez do controle individual, promovendo uma estrutura onde todos os parceiros são responsáveis pela empresa e não uns pelos outros. Esse modelo visa cultivar uma cultura de disciplina coletiva e evitar os riscos do personalismo.
Desafios em um Cenário em Mudança
Lançar uma nova empresa de investimentos em meio a um significativo declínio na gestão de fundos — marcado por uma migração em massa para produtos conservadores como os CDBs — exige uma dose considerável de coragem. Arruda reconhece as dificuldades presentes no cenário atual, mas também detecta sinais iniciais de um renovado interesse por parte dos investidores. “Estamos começando a testemunhar algumas mudanças, ainda que de forma bastante cautelosa, na disposição ao risco dos investidores”, observa.
Gonçalves complementa que a origem de seu produto de investimento foi inspirada pelas recentes decepções enfrentadas pelos investidores locais, muitos dos quais optaram por retornos mais seguros. “O sentimento mudou drasticamente, levando os investidores a favorecer instrumentos atrelados ao CDI”, explica. Essa mudança motivou o desenvolvimento de um veículo de investimento projetado para atuar em todas as condições econômicas brasileiras imagináveis.
Influências Globais nos Mercados Brasileiros
Gonçalves e Arruda observam que a performance dos ativos brasileiros está cada vez mais influenciada por eventos que ocorrem além de suas fronteiras. Eles argumentam que a correlação entre os movimentos do mercado local e os desenvolvimentos políticos internos se enfraqueceu. Agora, há uma ênfase maior nas dinâmicas internacionais, especialmente aquelas relacionadas aos Estados Unidos e à China.
O Papel das Commodities e Refúgios Seguros
Nesse contexto em transformação, o ouro se destaca como uma classe de ativo crítica, refletindo a reestruturação global de valor. Atualmente, as reservas globais estão quase igualmente divididas entre títulos do Tesouro e ouro, um equilíbrio que não se via desde 1996. Gonçalves explica: “A desvalorização do dólar tornou-se uma narrativa amplamente aceita, e o ouro ganhou destaque à medida que investidores buscam ativos menos dependentes da estabilidade governamental.”
A alta nos preços do ouro e das commodities é vista como uma resposta direta ao crescente ceticismo em relação às finanças públicas e à estabilidade geopolítica. “O mundo tornou-se mais propenso a conflitos, gerando dúvidas sobre a capacidade das nações de manterem a saúde financeira”, afirma o especialista. Essa situação levou investidores a buscarem refúgio em ativos tangíveis como ouro, bitcoin e commodities, resultando em uma resposta coletiva aos temores sobre a confiabilidade governamental.
Perspectivas Futuras para a Morada Capital
Embora a atenção esteja voltada para tendências globais, a Morada Capital mantém um olhar atento sobre fatores domésticos que podem impactar sua estratégia. Gonçalves observa: “Atualmente, há um risco político mínimo embutido no mercado.” Ele evita fazer previsões de longo prazo, citando a imprevisibilidade dos desenvolvimentos políticos e a possibilidade de que métodos tradicionais de previsão não sejam eficazes, como demonstrado pelos resultados inesperados das recentes eleições.
No entanto, ele identifica correlações claras que persistem: um dólar enfraquecido geralmente resulta em taxas de inflação mais favoráveis, o que, por sua vez, pode melhorar o desempenho governamental. À medida que o ciclo de cortes de juros avança junto a uma recuperação econômica moderada, tanto Gonçalves quanto Arruda preveem um ambiente doméstico mais favorável.
Com a evolução do cenário de investimentos, Alex Gonçalves e Murilo Arruda estão confiantes de que as próximas ondas de valorização de mercado surgirão de mudanças nas circunstâncias. Eles acreditam que a Morada Capital está bem posicionada para aproveitar essas transformações à medida que se desenrolam.