A recente volatilidade em torno dos títulos da Raízen chamou a atenção do mercado, mas o cenário do crédito corporativo local parece permanecer estável. Um relatório do Bradesco BBI indica que os spreads das debêntures incentivadas com classificação AAA diminuíram em 5 pontos-base na última semana, atingindo um recorde de -77bps. Em contrapartida, os spreads das debêntures indexadas ao CDI apresentaram uma leve alta de apenas 2 pontos-base.
Curiosamente, o mercado local viu um aumento modesto de 9 pontos-base nos spreads dos títulos IPCA+ da Raízen. Esse aumento é insignificante em comparação à expressiva elevação no rendimento de seus títulos internacionais, que saltou de 6,7% para alarmantes 9,9% para aqueles com vencimento em 2034.
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Reações do Mercado e Posição da Empresa
As preocupações sobre a situação financeira da Raízen aumentaram após um relatório do Valor Econômico, que sugeriu uma possível reestruturação da dívida. Essa notícia provocou uma onda de vendas entre os investidores que detêm os títulos da empresa no exterior. No entanto, na sexta-feira, dia 11, a Raízen tomou medidas proativas, emitindo um comunicado ao mercado, negando firmemente qualquer intenção de reestruturação ou de solicitar recuperação judicial.
Garantia de Estabilidade Financeira
No seu comunicado, a empresa tranquilizou os stakeholders sobre sua sólida posição de caixa, reportando R$15,7 bilhões em ativos líquidos ao final do primeiro trimestre do ciclo 2025/26. Além disso, a Raízen destacou mais R$5,5 bilhões disponíveis através de linhas de crédito rotativo. Os principais acionistas da empresa, Cosan e Shell, estão atualmente explorando diversas estratégias de captação de recursos para fortalecer a estabilidade financeira e apoiar seus objetivos de longo prazo.
Atividade do Mercado Primário Permanece Forte
Apesar dos desafios enfrentados pela Raízen, o mercado primário de títulos corporativos continua a prosperar. Apenas na semana passada, as empresas conseguiram emitir R$5,9 bilhões em debêntures através de 11 transações distintas. Notavelmente, a Argo Energia liderou as emissões, garantindo R$1,7 bilhão em três séries com vencimentos em 2030, 2032 e 2035, oferecendo rendimentos entre DI + 0,5% e DI + 0,8%.
Demanda Contínua por Crédito
Outras ofertas recentes incluem montantes significativos da Motiva (R$1,8 bilhão), Equatorial Goiás (R$1,3 bilhão) e Guararapes (R$1,45 bilhão). Essa atividade demonstra um apetite saudável pelo crédito corporativo, mesmo em meio à volatilidade específica em relação a determinados emissores.
Tendências nos Índices de Renda Fixa
No mês de setembro, os índices de renda fixa apresentaram um desempenho notável, especialmente entre os títulos isentos de impostos, em meio a discussões crescentes sobre a tributação de ativos isentos, como as debêntures incentivadas. De acordo com dados da Anbima, o índice IDA-IPCA Infraestrutura, que reflete debêntures com vantagens fiscais, aumentou em 2,33%, superando outros índices. Em comparação, o índice IDA-IPCA Ex-Investimento, que acompanha títulos não incentivados, subiu 1,45%, enquanto o IDA-DI, composto por debêntures vinculadas à taxa DI, avançou 1,19%.
Como aponta Marcelo Cidade, economista da Anbima, o foco do mercado na tributação de ativos isentos naturalmente eleva o valor daqueles títulos que ainda se beneficiam de vantagens fiscais. Essa situação destaca as dinâmicas em curso no espaço de crédito corporativo e a importância estratégica de navegar eficazmente por essas águas financeiras.