A recente apreensão de um petroleiro na costa da Venezuela pelas autoridades dos Estados Unidos expôs a complexa relação entre o país sul-americano e o uso de criptomoedas para contornar sanções econômicas. O incidente, que ocorreu em dezembro de 2025, evidenciou a necessidade de um maior conhecimento sobre as redes financeiras que operam na Venezuela, especialmente em tempos de hiperinflação e isolamento bancário.
De acordo com um relatório da TRM Labs, a Venezuela tem se adaptado a um cenário desafiador, onde a escassez de opções financeiras tradicionais força a população a buscar alternativas digitais. O executivo Ari Redbord, especialista em políticas da empresa, destacou que o país tem explorado diversas formas de movimentar valores, desde transações clandestinas de petróleo até o uso de stablecoins, como o Tether (USDT).
O papel das stablecoins na economia venezuelana
Com a desintegração de canais bancários confiáveis, as stablecoins emergiram como uma solução fundamental para muitos venezuelanos. A conversão de ativos digitais em moeda fiduciária tornou-se um aspecto cotidiano da vida econômica no país. A crescente demanda por essas moedas digitais está diretamente ligada à inflação galopante e à necessidade de remessas que cruzam fronteiras.
Interações frequentes com plataformas digitais
O estudo da TRM Labs revela que os usuários na Venezuela utilizam plataformas de peer-to-peer para realizar transações financeiras. Essas plataformas possibilitam a conversão rápida de ativos digitais e têm se tornado uma alternativa viável diante das limitações impostas por instituições financeiras tradicionais. Assim, a movimentação de criptomoedas não apenas facilita a troca de valores, mas também promove a resiliência econômica em um ambiente hostil.
Além disso, a utilização de carteiras digitais adaptadas para o comércio local e serviços pequenos demonstra que as criptomoedas estão profundamente integradas à vida cotidiana. Contudo, essa integração também levanta preocupações sobre a falta de supervisão e a presença de atividades de alto risco.
Desafios regulatórios e suas implicações
A regulação do mercado de ativos digitais na Venezuela é um tema complexo e em constante evolução. Desde a reestruturação do principal órgão regulador de criptoativos, o SUNACRIP, em 2025, o cenário se tornou ainda mais fragmentado. A ausência de diretrizes claras para o setor encoraja a formação de intermediários informais que operam fora do alcance do sistema bancário convencional.
Transações em um ambiente de incerteza
As transações realizadas por meio de exchanges ponto a ponto frequentemente carecem de transparência, o que pode resultar em riscos associados a evasão de sanções e movimentações financeiras duvidosas. Essas práticas são observadas em investigações que relacionam remessas de petróleo e redes de transporte ilegais, evidenciando a dualidade da economia venezuelana, onde o uso legítimo e o ilícito coexistem.
A instabilidade econômica e a desvalorização da moeda local alimentam a busca por stablecoins como um meio de preservar valor e facilitar a troca de bens e serviços. A incerteza regulatória apenas amplifica essa dependência, dificultando a conformidade e a segurança no uso de ativos digitais.
Assim, o uso de criptomoedas na Venezuela não é apenas uma resposta às limitações impostas por sanções internacionais, mas também reflete uma adaptação necessária a um contexto econômico adverso. À medida que o país enfrenta desafios contínuos, a infraestrutura digital parece oferecer uma luz no fim do túnel, ainda que envolta em riscos e incertezas.
